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Ano para ficar de olho nas contas


02/03/2015
Brasil
Jornal Do Comércio

Desemprego, inflação, inadimplência e recessão. O cidadão comum deve redobrar o cuidado neste ano para não descontrolar as contas, descapitalizar-se ou ficar com o nome sujo na praça.

Diante do aumento de preços acima do salário e da poupança, o jeito é cortar excessos e desperdícios. "É a velha receita de anotar tudo o que se gasta e saber para onde está indo o dinheiro. Deve-se avaliar, por exemplo, se vale a pena ter um automóvel ou usar transporte público", orienta Amerson Magalhães, diretor da Easynvest.

Para quem deixa o dinheiro na poupança, chegou a hora de rever a escolha. "Só vale a pena se for deixar o dinheiro por pouco tempo, quando se paga a maior taxa de IR (em outras aplicações). Ou se o valor for muito baixo para conseguir aplicar em outro investimento, com custo menor", disse o planejador financeiro Valter Police.

O fato é que, diante da perspectiva de desemprego, inflação, inadimplência e recessão, é preciso redobrar a atenção com as finanças pessoais. Quem está endividado corre o sério risco de descontrolar as contas em 2015. Se a pessoa tem algum investimento, a recomendação da maioria dos especialistas é sacar para quitar o débito. Isso porque a taxa de juros da melhor aplicação dificilmente supera a paga em uma dívida. É o que fez a auxiliar administrativa Gabriela Ribeiro de Castro Setti.

No rotativo de dois cartões de crédito, ela acabou entrando também no cheque especial. "Aí um banco me ligou para negociar o cartão e ofereceu um empréstimo. Peguei o empréstimo, juntei com o 13º salário e quitei as dívidas. Mas precisei tirar dinheiro da poupança." A decisão de Gabriela foi acertada, na avaliação de Aquiles Mosca, do Santander. "As pessoas geralmente têm dificuldade em mexer no dinheiro aplicado. É preferível resgatar os investimentos, pagar a dívida e voltar a fazer o esforço de guardar quando a situação se regularizar."

Na avaliação de Thiago Alvarez, sócio do site GuiaBolso, se for por um período curto, não vale a pena cobrir o rombo na conta-corrente com algum investimento. "Quando você faz uso do cheque especial por pouquíssimo tempo, de um a cinco dias, e sabe que é algo que não vai se repetir, não compensa retirar a aplicação. Uma vez que resgatou fica mais difícil recomeçar a poupar. E os juros de um ou dois dias são suportáveis."

Outra ressalva é feita se a dívida for de longo prazo, como de imóvel ou do carro. "Pegar o investimento para quitar o débito pode não ser uma boa ideia se comprometer a reserva de segurança."Quem não tem de onde tirar dinheiro tem que apelar para a renegociação da dívida, caso as parcelas estejam pesando no bolso, afirma Amerson Magalhães, diretor da Easynvest. "Tem que reduzir o tamanho da dívida, renegociando o empréstimo. Isso vale para quem não tem fonte de renda e está endividado", ressalta.

A dica vale principalmente para quem tem dívida no cheque especial e no rotativo do cartão de crédito, modalidades de crédito com as maiores taxas de juros no mercado. "Negocie para trocar por um empréstimo pessoal ou um consignado, que têm juros mais atrativos", afirma.

Diante da perspectiva de piora no emprego, a pessoa deve estender esse "colchão" para mais tempo, inclusive para não ser obrigada a aceitar a primeira proposta de trabalho que aparecer. "Diria que é melhor ter recursos entre oito a dez meses por causa da estagnação da economia", alega Aquiles Mosca, do Santander.

Thiago Alvarez, do site de finanças pessoais GuiaBolso, sugere que esse dinheiro fique em uma aplicação de baixo risco e que permita o resgate sempre que for preciso. Em especial, ele recomenda aplicações ?que seguem os juros pós-fixados ou mesmo a Selic (taxa básica de juros). "Pode ser um CDB (Certificado de Depósito Bancário) ou LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), desde que tenham prazo de resgate próximo", diz.

O investidor também pode deixar o dinheiro na poupança, mas, como ela está perdendo para a inflação, isso significa abrir mão do poder de compra - o segundo fantasma que ronda a economia.

Inflação deve comprometer rendimentos da poupança ao longo do ano

O investidor que deixou suas economias na poupança perdeu para a inflação em janeiro. A previsão é que isso se repita em boa parte do ano. A poupança só deve voltar a ficar atraente quando a inflação recuar e os juros das demais aplicações caírem, cenário fora do radar em 2015.

Em janeiro, a caderneta de poupança rendeu 0,59% -bem abaixo do IPCA (índice oficial de inflação) de 1,24%, a maior taxa desde fevereiro de 2003. Nos últimos 12 meses, a poupança perdeu menos: subiu 7,05%, ainda abaixo da inflação de 7,14%. A previsão para 2015 é que a caderneta renda 7,44%. Já a projeção do mercado para o IPCA está hoje em 7,15%, mas tem subido semanalmente - no fim de 2014, a estimativa era 6,53%.

Em 2014, a poupança já dava sinais de fraqueza, com ganho de 0,63 ponto percentual acima da inflação, o quarto menor desde o Plano Real. "O cliente precisa entender o quanto ele pode ganhar em uma aplicação com a mesma segurança da poupança, mas com rentabilidade maior", afirma Einar Rivero, gerente da consultoria Economática.

Foi o caso do advogado André Leão, que decidiu variar seus investimentos e aproveitar a Selic (taxa básica de juros) de 12,25% de olho na compra de um apartamento. "Tenho cerca de R$ 60 mil e decidi aplicar em fundos com risco moderado porque a poupança rende pouco."

Entre os investimentos escolhidos, estão fundos multimercado, que misturam renda fixa e ações. Leão também investiu em aplicações que remuneram pelo CDI. Com a perspectiva de crescimento fraco, o investidor pode se refugiar na renda fixa. O menor risco de errar é com papéis e fundos pós-fixados, com retorno atrelado à Selic. Uma opção são as LFTs (Letras Financeiras do Tesouro), vendidas no site do Tesouro Direto.

Crédito consignado pode representar dor de cabeça aos tomadores de empréstimos

O crédito consignado passou de sinônimo de dinheiro barato e prático - o desconto é direto na folha de pagamento - para se tornar uma fonte de dor de cabeça para o consumidor. Hoje, praticamente uma em cada quatro reclamações enviadas ao Banco Central (BC) está relacionada a esse tipo de empréstimo. O BC recebeu 19,7 mil queixas sobre bancos de julho do ano passado a janeiro de 2015 e, destas, 4,8 mil (ou 24,5%) tinham alguma relação com o consignado.

Os órgãos de defesa recomendam atenção redobrada a contratos e cláusulas, principalmente porque é muito comum nesse mercado a figura do correspondente bancário - também conhecido pelo nome pejorativo de "pastinha". Esse profissional representa a instituição financeira e é, muitas vezes, a única forma de contato da população com o sistema bancário.

"Os problemas acabam sendo mais frequentes quando o crédito é tomado fora dos olhos da instituição financeira, por meio desses correspondentes", diz a supervisora de assuntos financeiros do Procon-SP, Renata Reis. Isso não quer dizer, contudo, que o banco ou a financeira estejam livres de responsabilidade. "É importante que haja fiscalização das empresas que optaram por essa forma de representação", afirma. Em caso de problemas, a recomendação é registrar a queixa na ouvidoria do banco. Depois, procurar o Procon e o BC.

As reclamações estão divididas em dois grupos. De um lado, quase 60% dos problemas ocorrem porque o cliente não consegue mudar seu crédito de um banco para outro - a chamada portabilidade. O crescimento das queixas coincide com as novas regras para portar um empréstimo - em vigor desde maio do ano passado. As normas estabelecem, entre outras novidades, um prazo para que o banco detentor da dívida apresente uma contraproposta, caso o consumidor manifeste vontade de migrar o débito. Além disso, o processo agora deve ser realizado por via eletrônica.

"Os bancos não estão respeitando a regra. Eles não fornecem o saldo que o cliente está devendo e não liberam a pessoa para fazer a migração", diz Edison João Costa, presidente da Aneps, associação que representa os correspondentes. A entidade está organizando um abaixo-assinado para rediscutir as mudanças na portabilidade, sob a alegação de que consumidores e correspondentes não foram beneficiados.

No outro rol de reclamações, 42,5% das queixas estão disseminadas por questões tão diversas como o não fornecimento de boletos para o pagamento antecipado da dívida ou a falta de um contrato que formalize o empréstimo. Em comum, há a falta de clareza na operação."A percepção que os órgãos de defesa do consumidor têm sobre o consignado é de que o consumidor fica numa situação muito vulnerável", diz Renata, do Procon-SP. Ela diz que é importante ter em mãos documentos que provem a oferta apresentada na tomada do crédito. O consignado é mais popular entre os aposentados e funcionários públicos. Em dezembro, o saldo das operações somava R$ 252 bilhões, um crescimento de 370% em relação a 2007, quando os dados começaram a ser coletados.

Deste total, R$ 155,8 bilhões, ou 62%, correspondiam ao valor dos servidores e R$ 77,1 bilhões (30%) ao dos aposentados. Só R$ 19,1 bilhões, ou 7,5%, eram de empréstimos de trabalhadores do setor privado. Apesar dos problemas, o tomador de empréstimo pode encontrar no consignado uma opção para o pagamento de contas ou substituição de dívidas mais caras. Como o débito é direto do salário, a chance de inadimplência é menor. Por isso, o juro é mais vantajoso. É melhor recorrer a esse crédito do que ficar no vermelho no banco, por exemplo - o juro mensal do consignado é de 2%, contra 9,6% do cheque especial.

Alta dos preços reflete nos gastos e intimida a classe C

O cenário de inflação alta, crédito escasso e renda comprometida está fazendo a parcela da população brasileira que ascendeu para a classe C comprar menos nos supermercados neste começo de ano do que nos últimos seis meses. E a percepção para o primeiro semestre de 2015 não é nada animadora: o carrinho de compras deve continuar encolhendo. Estes são os primeiros resultados de uma pesquisa inédita, chamada O Bolso do Brasileiro, que o Instituto Data Popular, especializado na classe C, acaba de concluir.

á segundo a Nielsen, empresa especializada em pesquisar hábitos dos consumidores, diante deste cenário de comprometimento de renda, endividamento e inflação, a classe C é a mais afetada em sua vida financeira, já que apresenta em média um gasto 15% superior à sua renda mensal. Levantamento recente da Kantar Worldpanel, outra companhia especializada em pesquisar as tendências de consumo, mostrou que as classes C e D/E já diminuíram em cerca de oito vezes o número de idas aos pontos de venda, enquanto a classe A diminuiu apenas quatro vezes.

Pela metodologia do Data Popular, as famílias da classe C têm renda média de R$ 2,9 mil e, nos últimos anos, passaram a consumir produtos e serviços antes inacessíveis. O levantamento foi feito entre os dias 18 e 29 de janeiro em 150 cidades do País e foram entrevistadas 3.050 pessoas. De acordo com a pesquisa, 47% dos entrevistados disseram estar comprando menos produtos no supermercado na comparação com os últimos seis meses. Outros 36% afirmaram que compram a mesma quantidade, e 12% responderam que estão comprando mais produtos.

Os pesquisadores perguntaram aos entrevistados se nos próximos seis meses, pensando na condição financeira atual, eles esperavam comprar mais ou menos. Entre as respostas, 45% afirmaram que vão comprar menos; 36% disseram que vão comprar a mesma quantidade e 19% responderam que vão comprar mais. Para o economista Miguel Ribeiro de Oliveira, da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), o aumento dos impostos e o crédito mais caro e restrito afetam todas as classes, mas especialmente a classe C, que pode até encolher neste ano.

Desemprego, inflação, inadimplência e recessão. O cidadão comum deve redobrar o cuidado neste ano para não descontrolar as contas, descapitalizar-se ou ficar com o nome sujo na praça.

Diante do aumento de preços acima do salário e da poupança, o jeito é cortar excessos e desperdícios. "É a velha receita de anotar tudo o que se gasta e saber para onde está indo o dinheiro. Deve-se avaliar, por exemplo, se vale a pena ter um automóvel ou usar transporte público", orienta Amerson Magalhães, diretor da Easynvest.

Para quem deixa o dinheiro na poupança, chegou a hora de rever a escolha. "Só vale a pena se for deixar o dinheiro por pouco tempo, quando se paga a maior taxa de IR (em outras aplicações). Ou se o valor for muito baixo para conseguir aplicar em outro investimento, com custo menor", disse o planejador financeiro Valter Police.

O fato é que, diante da perspectiva de desemprego, inflação, inadimplência e recessão, é preciso redobrar a atenção com as finanças pessoais. Quem está endividado corre o sério risco de descontrolar as contas em 2015. Se a pessoa tem algum investimento, a recomendação da maioria dos especialistas é sacar para quitar o débito. Isso porque a taxa de juros da melhor aplicação dificilmente supera a paga em uma dívida. É o que fez a auxiliar administrativa Gabriela Ribeiro de Castro Setti.

No rotativo de dois cartões de crédito, ela acabou entrando também no cheque especial. "Aí um banco me ligou para negociar o cartão e ofereceu um empréstimo. Peguei o empréstimo, juntei com o 13º salário e quitei as dívidas. Mas precisei tirar dinheiro da poupança." A decisão de Gabriela foi acertada, na avaliação de Aquiles Mosca, do Santander. "As pessoas geralmente têm dificuldade em mexer no dinheiro aplicado. É preferível resgatar os investimentos, pagar a dívida e voltar a fazer o esforço de guardar quando a situação se regularizar."

Na avaliação de Thiago Alvarez, sócio do site GuiaBolso, se for por um período curto, não vale a pena cobrir o rombo na conta-corrente com algum investimento. "Quando você faz uso do cheque especial por pouquíssimo tempo, de um a cinco dias, e sabe que é algo que não vai se repetir, não compensa retirar a aplicação. Uma vez que resgatou fica mais difícil recomeçar a poupar. E os juros de um ou dois dias são suportáveis."

Outra ressalva é feita se a dívida for de longo prazo, como de imóvel ou do carro. "Pegar o investimento para quitar o débito pode não ser uma boa ideia se comprometer a reserva de segurança."Quem não tem de onde tirar dinheiro tem que apelar para a renegociação da dívida, caso as parcelas estejam pesando no bolso, afirma Amerson Magalhães, diretor da Easynvest. "Tem que reduzir o tamanho da dívida, renegociando o empréstimo. Isso vale para quem não tem fonte de renda e está endividado", ressalta.

A dica vale principalmente para quem tem dívida no cheque especial e no rotativo do cartão de crédito, modalidades de crédito com as maiores taxas de juros no mercado. "Negocie para trocar por um empréstimo pessoal ou um consignado, que têm juros mais atrativos", afirma.

Diante da perspectiva de piora no emprego, a pessoa deve estender esse "colchão" para mais tempo, inclusive para não ser obrigada a aceitar a primeira proposta de trabalho que aparecer. "Diria que é melhor ter recursos entre oito a dez meses por causa da estagnação da economia", alega Aquiles Mosca, do Santander.

Thiago Alvarez, do site de finanças pessoais GuiaBolso, sugere que esse dinheiro fique em uma aplicação de baixo risco e que permita o resgate sempre que for preciso. Em especial, ele recomenda aplicações ?que seguem os juros pós-fixados ou mesmo a Selic (taxa básica de juros). "Pode ser um CDB (Certificado de Depósito Bancário) ou LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), desde que tenham prazo de resgate próximo", diz.

O investidor também pode deixar o dinheiro na poupança, mas, como ela está perdendo para a inflação, isso significa abrir mão do poder de compra - o segundo fantasma que ronda a economia.

Inflação deve comprometer rendimentos da poupança ao longo do ano

O investidor que deixou suas economias na poupança perdeu para a inflação em janeiro. A previsão é que isso se repita em boa parte do ano. A poupança só deve voltar a ficar atraente quando a inflação recuar e os juros das demais aplicações caírem, cenário fora do radar em 2015.

Em janeiro, a caderneta de poupança rendeu 0,59% -bem abaixo do IPCA (índice oficial de inflação) de 1,24%, a maior taxa desde fevereiro de 2003. Nos últimos 12 meses, a poupança perdeu menos: subiu 7,05%, ainda abaixo da inflação de 7,14%. A previsão para 2015 é que a caderneta renda 7,44%. Já a projeção do mercado para o IPCA está hoje em 7,15%, mas tem subido semanalmente - no fim de 2014, a estimativa era 6,53%.

Em 2014, a poupança já dava sinais de fraqueza, com ganho de 0,63 ponto percentual acima da inflação, o quarto menor desde o Plano Real. "O cliente precisa entender o quanto ele pode ganhar em uma aplicação com a mesma segurança da poupança, mas com rentabilidade maior", afirma Einar Rivero, gerente da consultoria Economática.

Foi o caso do advogado André Leão, que decidiu variar seus investimentos e aproveitar a Selic (taxa básica de juros) de 12,25% de olho na compra de um apartamento. "Tenho cerca de R$ 60 mil e decidi aplicar em fundos com risco moderado porque a poupança rende pouco."

Entre os investimentos escolhidos, estão fundos multimercado, que misturam renda fixa e ações. Leão também investiu em aplicações que remuneram pelo CDI. Com a perspectiva de crescimento fraco, o investidor pode se refugiar na renda fixa. O menor risco de errar é com papéis e fundos pós-fixados, com retorno atrelado à Selic. Uma opção são as LFTs (Letras Financeiras do Tesouro), vendidas no site do Tesouro Direto.

Crédito consignado pode representar dor de cabeça aos tomadores de empréstimos

O crédito consignado passou de sinônimo de dinheiro barato e prático - o desconto é direto na folha de pagamento - para se tornar uma fonte de dor de cabeça para o consumidor. Hoje, praticamente uma em cada quatro reclamações enviadas ao Banco Central (BC) está relacionada a esse tipo de empréstimo. O BC recebeu 19,7 mil queixas sobre bancos de julho do ano passado a janeiro de 2015 e, destas, 4,8 mil (ou 24,5%) tinham alguma relação com o consignado.

Os órgãos de defesa recomendam atenção redobrada a contratos e cláusulas, principalmente porque é muito comum nesse mercado a figura do correspondente bancário - também conhecido pelo nome pejorativo de "pastinha". Esse profissional representa a instituição financeira e é, muitas vezes, a única forma de contato da população com o sistema bancário.

"Os problemas acabam sendo mais frequentes quando o crédito é tomado fora dos olhos da instituição financeira, por meio desses correspondentes", diz a supervisora de assuntos financeiros do Procon-SP, Renata Reis. Isso não quer dizer, contudo, que o banco ou a financeira estejam livres de responsabilidade. "É importante que haja fiscalização das empresas que optaram por essa forma de representação", afirma. Em caso de problemas, a recomendação é registrar a queixa na ouvidoria do banco. Depois, procurar o Procon e o BC.

As reclamações estão divididas em dois grupos. De um lado, quase 60% dos problemas ocorrem porque o cliente não consegue mudar seu crédito de um banco para outro - a chamada portabilidade. O crescimento das queixas coincide com as novas regras para portar um empréstimo - em vigor desde maio do ano passado. As normas estabelecem, entre outras novidades, um prazo para que o banco detentor da dívida apresente uma contraproposta, caso o consumidor manifeste vontade de migrar o débito. Além disso, o processo agora deve ser realizado por via eletrônica.

"Os bancos não estão respeitando a regra. Eles não fornecem o saldo que o cliente está devendo e não liberam a pessoa para fazer a migração", diz Edison João Costa, presidente da Aneps, associação que representa os correspondentes. A entidade está organizando um abaixo-assinado para rediscutir as mudanças na portabilidade, sob a alegação de que consumidores e correspondentes não foram beneficiados.

No outro rol de reclamações, 42,5% das queixas estão disseminadas por questões tão diversas como o não fornecimento de boletos para o pagamento antecipado da dívida ou a falta de um contrato que formalize o empréstimo. Em comum, há a falta de clareza na operação."A percepção que os órgãos de defesa do consumidor têm sobre o consignado é de que o consumidor fica numa situação muito vulnerável", diz Renata, do Procon-SP. Ela diz que é importante ter em mãos documentos que provem a oferta apresentada na tomada do crédito. O consignado é mais popular entre os aposentados e funcionários públicos. Em dezembro, o saldo das operações somava R$ 252 bilhões, um crescimento de 370% em relação a 2007, quando os dados começaram a ser coletados.

Deste total, R$ 155,8 bilhões, ou 62%, correspondiam ao valor dos servidores e R$ 77,1 bilhões (30%) ao dos aposentados. Só R$ 19,1 bilhões, ou 7,5%, eram de empréstimos de trabalhadores do setor privado. Apesar dos problemas, o tomador de empréstimo pode encontrar no consignado uma opção para o pagamento de contas ou substituição de dívidas mais caras. Como o débito é direto do salário, a chance de inadimplência é menor. Por isso, o juro é mais vantajoso. É melhor recorrer a esse crédito do que ficar no vermelho no banco, por exemplo - o juro mensal do consignado é de 2%, contra 9,6% do cheque especial.

Alta dos preços reflete nos gastos e intimida a classe C

O cenário de inflação alta, crédito escasso e renda comprometida está fazendo a parcela da população brasileira que ascendeu para a classe C comprar menos nos supermercados neste começo de ano do que nos últimos seis meses. E a percepção para o primeiro semestre de 2015 não é nada animadora: o carrinho de compras deve continuar encolhendo. Estes são os primeiros resultados de uma pesquisa inédita, chamada O Bolso do Brasileiro, que o Instituto Data Popular, especializado na classe C, acaba de concluir.

á segundo a Nielsen, empresa especializada em pesquisar hábitos dos consumidores, diante deste cenário de comprometimento de renda, endividamento e inflação, a classe C é a mais afetada em sua vida financeira, já que apresenta em média um gasto 15% superior à sua renda mensal. Levantamento recente da Kantar Worldpanel, outra companhia especializada em pesquisar as tendências de consumo, mostrou que as classes C e D/E já diminuíram em cerca de oito vezes o número de idas aos pontos de venda, enquanto a classe A diminuiu apenas quatro vezes.

Pela metodologia do Data Popular, as famílias da classe C têm renda média de R$ 2,9 mil e, nos últimos anos, passaram a consumir produtos e serviços antes inacessíveis. O levantamento foi feito entre os dias 18 e 29 de janeiro em 150 cidades do País e foram entrevistadas 3.050 pessoas. De acordo com a pesquisa, 47% dos entrevistados disseram estar comprando menos produtos no supermercado na comparação com os últimos seis meses. Outros 36% afirmaram que compram a mesma quantidade, e 12% responderam que estão comprando mais produtos.

Os pesquisadores perguntaram aos entrevistados se nos próximos seis meses, pensando na condição financeira atual, eles esperavam comprar mais ou menos. Entre as respostas, 45% afirmaram que vão comprar menos; 36% disseram que vão comprar a mesma quantidade e 19% responderam que vão comprar mais. Para o economista Miguel Ribeiro de Oliveira, da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), o aumento dos impostos e o crédito mais caro e restrito afetam todas as classes, mas especialmente a classe C, que pode até encolher neste ano.


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