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Após encolher em 2023, setor têxtil deve voltar a crescer em 2024


14/02/2024
Brasil
Diário do Comércio

Uma das ferramentas mais antigas usadas pelos lojistas para atrair a clientela, principalmente em época mais fraca para o consumo, são as liquidações.

Como é praxe, logo depois do melhor mês de vendas do ano, dezembro, as placas com descontos de até 80% vão para as vitrines.

Neste ano, os cortes nos preços dos produtos não atraíram os consumidores como se previa. Lojistas falam em queda de 4% a 8% nas vendas em janeiro em relação a igual mês de 2023.

“Comerciantes de várias regiões de São Paulo estão reclamando da falta de vendas neste ano. O movimento não está fraco, está fraquíssimo”, afirma Aldo Macri, presidente do Sindilojas-SP.

A Confecção Barcelos, especializada em roupas sociais masculinas, informa que, neste início de ano, a demanda das lojas está 30% menor do que a de igual período do ano passado.

“Os lojistas dizem que o mercado está parado e confuso e, por isso, preferem adiar as compras”, diz Luís Fernando Araújo, sócio-diretor da confecção, que abastece cerca de 12 lojas.

Na Loony, uma das confecções mais tradicionais do Bom Retiro, que vende no atacado e no varejo, as vendas em janeiro foram 5% menores do que as de igual mês do ano passado.

“O ano começou diferente, os comerciantes sentem falta de movimento”, diz Nelson Tranquez, diretor da Loony e conselheiro da CDL (Câmara dos Dirigentes Lojistas) do Bom Retiro.

Paulo Matos, diretor-geral da Tommy Hilfiger Brasil, com 25 lojas próprias, 60 franquias e 1.600 multimarcas no país, diz que a palavra que define os negócios hoje é “estabilidade” sobre 2023.

E-commerce, dívidas das famílias e gastos com IPTU (imposto sobre imóveis), IPVA (imposto sobre veículos) e material escolar, dizem os lojistas, explicam parte do sumiço dos clientes.

Mas o fato é que também neste mesmo período do ano passado esses mesmos fatores estavam presentes para pesar contra o consumo.

E havia um agravante. A crise financeira da Lojas Americanas e, em seguida, de outras redes do varejo provocou uma desconfiança no mercado financeiro, que optou por segurar o crédito.

“Vamos nos reunir após o Carnaval para tentar entender o que pode ter de diferente neste início de 2024, se é algo pontual”, afirma Tranquez. 

Algumas pistas. Pesquisa da FecomercioSP revelou que o comprometimento da renda dos paulistanos com dívidas em janeiro foi de 32%, o maior percentual da série, iniciada em 2010.

As contas em atraso também atingem quase 22% dos lares do Estado de São Paulo. 

A esperança dos lojistas é que com a expectativa de queda de juros e inflação e algum aumento no emprego e na renda as vendas retomem ainda neste primeiro trimestre.

BOAS NOTÍCIAS

O IEMI - Inteligência de Mercado, empresa de consultoria que acompanha há décadas o mercado têxtil, tem boas notícias para quem atua no mundo dos tecidos e das confecções.

Dados preliminares da consultoria indicam que, no ano passado, em número de peças, o varejo de roupas vendeu 3,4% menos do que em 2022. 

Neste ano, a projeção já é de um crescimento de 3,8% sobre 2023.

A produção de roupas, que caiu 5%, em peças, em 2023 sobre 2022, de acordo com o IEMI, deve crescer 3,2% neste ano em comparação com o ano passado.

“A expectativa é de um ano melhor para o setor têxtil. Juros e inflação em queda e os bancos estão renovando as carteiras de empréstimos”, diz Marcelo Prado, sócio-diretor do IEMI.

O varejo deve crescer mais do que a indústria têxtil, diz, porque o movimento de entrada de importados da China deve se intensificar ao longo deste ano.

A participação dos importados no consumo nacional de roupas, que foi de 13% em 2021, de 18,5% em 2022 e de 22% em 2023, diz Prado, deve crescer ainda mais neste ano.

“A China está com uma política agressiva de conquista de mercado externo e nós somos alvos. Há uma porta aberta para as grandes redes que querem trazer volumes de importados”, diz.

Na Caedu, rede com 82 lojas em São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Goiás, que atingiu R$ 1 bilhão de faturamento em 2023, os importados representam de 25% a 30%.

É uma das redes que pode se beneficiar, diz Prado, da política de exportação chinesa. 

“O mês de janeiro foi difícil para o varejo. Para nós, as vendas estão parecidas com as de janeiro de 2023, considerando as mesmas lojas”, afirma Edson Salles, CEO da Caedu.

A rede poderia ter vendido entre 4% e 5% mais, de acordo com ele, se não tivesse tido desabastecimento em algumas linhas de produtos.

Considerando todas as lojas (no ano passado foram abertas 12 lojas), a Caedu faturou em janeiro deste ano 10% mais do que em igual mês de 2023.

E este resultado, de acordo com Salles, está relacionado com o posicionamento dos produtos. É uma loja de departamento clássica, com foco nas classes de menor poder aquisitivo.

“Existe uma migração de clientes de outras redes para a Caedu, com produtos, preços e conceito de loja que atendem a demanda dos consumidores”, diz Salles.

Com queda de juros e inflação, que aumenta o poder de compra das famílias, diz, existe uma expectativa de retomada de vendas do varejo neste ano.

A projeção da rede para 2024 é crescer 6% em volume de peças em relação a 2023, praticamente o dobro da previsão do IEMI para o mercado.

Com exceção da agricultura, que deve enfrentar quebra de safra por razões climáticas, todos os setores do varejo devem crescer neste ano, na avaliação de Marcos Hirai, sócio-fundador do NDEV (Núcleo de Desenvolvimento de Expansões Varejistas).

“As perspectivas para a economia são mais positivas com a melhora de indicadores econômicos, o que cria um ambiente mais favorável para o consumo”, diz.

A fusão dos grupos Arezzo&Co e Soma, que passa a reunir 34 marcas, 2 mil lojas próprias e cerca de 22 mil funcionários, diz Hirai, pode inspirar a união de grupos menores.

“Inegavelmente, este novo grupo vai ter mais poder para negociar, desde a compra de matérias-primas, importados até espaços em shoppings. O varejo é escala”, afirma.

A Caedu já se prepara para abrir pelo menos 15 novas lojas nas regiões em que atua e também no Distrito Federal (DF), com intenção de chegar a 100 lojas até o final de 2024.

“Para quem tem marca, deverá ser um ano estável. Nós vamos crescer na medida em que surgirem boas oportunidades de negócios”, afirma Matos, da Tommy Hilfiger Brasil.


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