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Cada vez mais portas fechadas
A economia está em frangalhos e o país caminha para a pior recessão dos últimos 25 anos. Os equívocos na política macroeconômica cometidos durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff estão deixando marcas. Nunca antes na história deste país se fecharam tantas empresas. De janeiro a junho deste ano, o número de firmas que encerraram as atividades, 191 mil, se aproxima do volume das que abriram: 232 mil.
Esses são os dados da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, com base nos cadastros das Juntas Comerciais do país inteiro. Em 2014, o quadro era um pouco melhor: uma companhia fechava para cada duas que abriam. Há 15 anos, quando a pesquisa começou, a diferença era bem maior. Para cada uma que fechava, quase cinco iniciavam as atividades (leia quadro ao lado).
Quem está prestes a entrar nessa triste estatística é a microempresária Liliane Trindade, 67 anos, dona de uma loja de roupas para mulheres há mais de 20 anos na Asa Sul. Ela decidiu fechar a loja no fim deste mês no Fashion Mall, onde está há uma década. A faixa de queima de estoque foi colocada na vitrine do estabelecimento, que tem o nome da madeira do cajado de Moisés, Acácia, há uma semana. "Os custos subiram muito e as vendas despencaram mais de 30% neste ano. Não está sendo fácil pagar as contas", desabafa.
Liliane conta que, como a conta de luz dobrou, ela só tem ligado o ar-condicionado quando as clientes pedem. Teve que demitir as quatro funcionárias. "Agora, quando preciso ir ao banco, tenho que fechar a loja", diz. Mas Liliane não quer parar de trabalhar. Vai usar um espaço na loja da filha, que vende roupas infantis, para continuar atendendo as clientes. "Nunca passei por uma crise tão aguda como a atual", diz ela, que culpa o governo da presidente Dilma pelas agruras que ela e o país enfrentam.
Menos flores
A empresária Nilza Gonçalves Vieira Oliveira, 73 anos, também se queixa da queda nas vendas em sua floricultura, a Flores de Barbacena, na Quadra 106 Sul. "O volume de vendas encolheu 20% desde janeiro, mas acho que vamos encerrar o ano com queda de 40%", aposta ela, que se considera uma sobrevivente entre os vizinhos, pois está há 42 anos estabelecida e só não fecha porque não precisa pagar aluguel.
O secretário-executivo da SMPE, José Constantino de Bastos Júnior, tenta minimizar o forte aumento do número de empresas fechando neste ano. "É preciso olhar esses dados com cuidado, porque, desde agosto de 2014, com a Lei Complementar nº 147, ficou mais fácil fechar uma empresa. Havia um represamento de mais de 1 milhão de firmas inativas", diz. Ele destaca que a categoria de microempreendedor individual, na qual se concentra a regularização dos que estão na informalidade, tem cerca de 100 mil adesões por mês. Mas reconhece que o fraco crescimento da economia "tem reflexo nos dados de abertura e de fechamento de empresa", que pioraram.
O momento atual é crítico na avaliação do presidente da Federação do Comércio do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Aldemir Santana. De acordo com dados da entidade, as vendas estão em queda desde janeiro. No mês de junho, encolheram 0,45% na comparação com maio e, no acumulado em 12 meses, o tombo foi de 11,45%. Segundo Santana, o risco de perda da renda das famílias vem crescendo. Por conta disso, o consumo vem diminuindo e, consequentemente, o varejo está sentindo na pele essa retração. Ele lembra que, no DF, o nível de endividamento é maior que a média nacional, em torno de 80%. Por isso, explica, não estamos na liderança no número de empresas fechadas.
Pelos dados das Juntas Comerciais, Brasília ficou em 11º lugar entre as 27 unidades da Federação. "Funcionários públicos se sentem mais seguros em contrair dívidas porque têm a estabilidade do emprego. Essas pessoas foram estimuladas a usarem crédito e financiamento de longo prazo", explica. "A crise veio com muita força no país inteiro. Em Brasília, vamos sofrer, mas temos o manto da proteção da estabilidade do emprego dos serviços públicos, isso ajuda a situação não ser ainda pior", completa.
A economista Marianne Hanson, da Confederação Nacional do Comércio e Serviços (CNC), conta que o cenário que se desenha este ano para o setor é o pior desde 2003. "Com certeza, está muito ruim depois de anos de crescimento satisfatório. A retração na economia está generalizada, com elevação dos juros, retração do crédito, redução do emprego, inflação alta corroendo a renda do consumidor, o que é muito ruim para o comércio. A indústria começou a sentir essa crise primeiro, mas agora ela chegou ao setor varejista e de serviços", avisa. Pelas estimativas da CNC, todos os setores devem registrar queda neste ano, menos o de supermercados e de artigos farmacêuticos.
O retrato da crise no comércio pode ser visto pelos corredores de um dos shoppings mais tradicionais de Brasília, o Liberty Mall, onde 16 lojas estão fechadas, algumas há mais de um ano. Fabíola Carvalho, 33, gerente de uma loja de roupas, conta que já demitiu uma vendedora e ficou com três porque o movimento só cai. "Já ganhei muito dinheiro com o comércio. Mas hoje em dia está muito difícil", reclama.
Mas há quem esteja conseguindo driblar a crise, caso da empresária Janaina Sebalho, 41 anos, proprietária da loja de roupas infantis 3Fases, no Sudoeste, há oito anos. Ela precisou diversificar com uma linha fitness quando as vendas começaram a cair há dois anos e, para não fechar as portas, há dois meses, mudou-se para um imóvel menor. "O aluguel caiu 40% e a conta de luz, a metade", comemora. "A gente tem que procurar uma forma de cortar as despesas para não fechar as portas", ensina. Ela tinha duas funcionárias e ficou com apenas uma para conseguir manter o negócio.
Mais falências
O economista da Boa Vista Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) Flávio Calife destaca que os pedidos de falência de empresas pelos credores subiram 13,6% no primeiro semestre do ano e atingiram níveis próximos aos de 2012, de 13,8%. "Estamos percebendo que esse número começou a subir agora e a tendência é que ele continuará aumentando porque o cenário econômico está piorando e nossa expectativa é de alta de 15% a 20% até o fim do ano", diz. De acordo com ele, a média de pedidos por mês neste ano está em 150, acima dos 132 mensais registrados em 2014. "Os números estão aparecendo agora. As empresas estão com dificuldade de gerar receita e os gastos estão cada vez mais elevados. Não há redução do custo da mão de obra, da energia elétrica e do crédito", explica.
Texto confeccionado por: Rosana Hessel
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