Utilitários Contábeis

Dragões do mal perturbam gestão de empresas


07/01/2015
Brasil
Revista Dedução

O professor Eliseu Martins é um dos principais especialistas brasileiros quando o tema é contabilidade internacional. Respeitado por empresas, reguladores e pela comunidade acadêmica, foi diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) durante o período de adoção das normas internacionais de contabilidade e é professor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Nesta entrevista especial, Martins - também conselheiro editorial de Dedução - cita os principais desafios que os profissionais contábeis terão em 2015, fala do aumento da transparência que a adoção do IFRS trouxe aos balanços e aponta o dedo para aqueles que interferem, indevidamente, na produção de demonstrativos contábeis.

Quais foram os temas que mais impactaram a atividade dos profissionais contábeis no ano de 2014?

Tenho a impressão de que o que mais preocupou os profissionais contábeis foram as discussões em torno dos efeitos da Medida Provisória 627, que depois se transformou em Lei. Ela teve diversas partes importantes, como o parcelamento de dívidas e outras, mas, principalmente, a discussão de toda a regulamentação fiscal das normas internacionais de contabilidade. Desde que estas começaram a ser emitidas, em 2008, trabalhava-se com o tal Regime Transitório de Tributação, sob o qual essas normas novas nada tinham de influência tributária.

Que novidades a nova Lei trouxe?

Esse diploma legal trouxe muitas novidades para o processo de convergência. Algumas normas contábeis internacionais continuarão não tendo efeitos fiscais. Outras passaram a ter e, em muitos casos, a aplicação da lei está dando origem a muito trabalho. Ou melhor, trará ainda porque a maioria das empresas sofrerá a vigência dessa lei a partir de 2015. Outro ponto muito controverso dessa lei, específico agora para um número menor, mas muito relevante em importância de empresas, é a tributação das controladas e coligadas no exterior. Para variar, foi um ano bastante animadinho.

Um setor da economia passou um ano atribuladíssimo, o da distribuição de energia elétrica aos consumidores finais. Por que isso aconteceu?

Apenas no final do ano chegou-se ao consenso com modificação dos contratos dessa distribuição entre essas empresas e o poder concedente, a Aneel, e a emissão da OCPC-08. Sem isso, essas empresas estariam apresentando fantásticos balanços negativos, nada representativos da realidade desse setor. Finalmente, mas também não menos relevante, tivemos a emissão de dois documentos do CPC de grande importância: um importante e trabalhoso, relativo à racionalização da elaboração das notas explicativas, e o outro importante, mas sem grandes efeitos práticos, o da aceitação, pelo IASB, das formas nossas de registro da equivalência patrimonial.

Quais desafios aguardam os profissionais no próximo ano?

Teremos, no início de 2015, um enorme trabalho com os profissionais ajudando no processo de elaboração das notas explicativas relativas ao exercício de 2014 sob a nova Orientação OCPC - O4. Eles terão que praticar e ensinar os administradores a aplicar o conceito de que todas as informações relevantes de natureza financeira têm de ser colocadas nas notas. No entanto, ao mesmo tempo, somente as informações relevantes podem constar nessas notas. Discutir e definir o conceito do que é relevante para cada caso será um processo de aprendizado que, inclusive, está começando agora sem muito prazo para terminar.

Qual análise o senhor faz da educação contábil no Brasil?

É difícil fazer qualquer generalização neste país continental. Mas diversos trabalhos, como os em andamento com financiamento do BID e em conjunto Fipecafi/Ibracon/CFC, estão sendo dirigidos exatamente para a melhoria da qualificação dos nossos professores Brasil afora. Tem havido também, como era de se esperar, o surgimento de materiais bibliográficos sobre as novas normas contábeis com maior abrangência e melhor qualidade, o que viabiliza o ensino da matéria. Ensinar na graduação tendo apenas as normas na mão é uma loucura!

Passado algum tempo desde que as empresas brasileiras de capital aberto e grande porte começaram a adotar o IFRS, qual balanço pode ser feito? A contabilidade brasileira ganhou em transparência?

Quando comparamos nossas demonstrações com as de países avançados ou semelhantes, podemos perceber que estamos, sim, entre os bons, nesse caso das companhias abertas e das empresas de grande porte. Temos, sem dúvida, evoluído e se ganhou muito em transparência. Com esse passo pioneiro que o Brasil está dando sobre notas explicativas, teremos condições de, se bem aproveitadas pelas empresas e pelos profissionais, passarmos à frente de muitos deles. Tivemos um trabalho insano em muitos setores e em muitas empresas, mas a evolução é absolutamente visível. O que falta para que a contabilidade avance ainda mais em transparência no país? Falta destruirmos os dragões do mal que perturbam as gestões de algumas empresas e que enlameiam suas demonstrações financeiras. Porém, nesse caso, não por problema das normas ou dos profissionais contábeis, mas por falta de ética e outros aspectos piores.


O nosso site usa cookies

Utilizamos cookies e outras tecnologias de medição para melhorar a sua experiência de navegação no nosso site, de forma a mostrar conteúdo personalizado, anúncios direcionados, analisar o tráfego do site e entender de onde vêm os visitantes.

Centro de preferências de cookies

A sua privacidade é importante para nós

Cookies são pequenos arquivos de texto que são armazenados no seu computador quando visita um site. Utilizamos cookies para diversos fins e para aprimorar sua experiência no nosso site (por exemplo, para se lembrar dos detalhes de login da sua conta).

Pode alterar as suas preferências e recusar o armazenamento de certos tipos de cookies no seu computador enquanto navega no nosso site. Pode também remover todos os cookies já armazenados no seu computador, mas lembre-se de que a exclusão de cookies pode impedir o uso de determinadas áreas no nosso site.

Cookies estritamente necessários

Estes cookies são essenciais para fornecer serviços disponíveis no nosso site e permitir que possa usar determinados recursos no nosso site.

Sem estes cookies, não podemos fornecer certos serviços no nosso site.

Cookies funcionais

Estes cookies são usados para fornecer uma experiência mais personalizada no nosso site e para lembrar as escolhas que faz ao usar o nosso site.

Por exemplo, podemos usar cookies de funcionalidade para se lembrar das suas preferências de idioma e/ ou os seus detalhes de login.

Cookies de medição e desempenho

Estes cookies são usados para coletar informações para analisar o tráfego no nosso site e entender como é que os visitantes estão a usar o nosso site.

Por exemplo, estes cookies podem medir fatores como o tempo despendido no site ou as páginas visitadas, isto vai permitir entender como podemos melhorar o nosso site para os utilizadores.

As informações coletadas por meio destes cookies de medição e desempenho não identificam nenhum visitante individual.

Cookies de segmentação e publicidade

Estes cookies são usados para mostrar publicidade que provavelmente lhe pode interessar com base nos seus hábitos e comportamentos de navegação.

Estes cookies, servidos pelo nosso conteúdo e/ ou fornecedores de publicidade, podem combinar as informações coletadas no nosso site com outras informações coletadas independentemente relacionadas com as atividades na rede de sites do seu navegador.

Se optar por remover ou desativar estes cookies de segmentação ou publicidade, ainda verá anúncios, mas estes poderão não ser relevantes para si.

Mais Informações

Para qualquer dúvida sobre a nossa política de cookies e as suas opções, entre em contato conosco.

Para obter mais detalhes, por favor consulte a nossa Política de Privacidade.

Contato

Olá,

Chame-nos para conversar!