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Falta de projetos das pequenas empresas limita empréstimos


19/11/2014
Brasil
DCI - SP

São Paulo - Uma das maiores dificuldades que a agência de desenvolvimento paulista, a Desenvolve SP, enfrenta para liberar financiamentos às pequenas empresas do estado é a falta de planejamento.

De acordo com o presidente da instituição, Milton Luiz de Melo Santos, após cruzar as informações da empresa solicitante e verificar que está tudo certo, a maioria tem problemas para explicar o que será seu projeto de inovação ou apresentar um plano de negócios.

"O Desenvolve SP criou, com o tema inovação, uma ferramenta no nosso site que permite ao empresário que está no limite do estado não precisar vir até a agência [no centro da cidade de São Paulo] para apresentar os documentos da empresa. Depois que recebemos e cruzamos essas informações com a Serasa, por exemplo, e pedimos para enviar o projeto, nessa hora, percebemos que boa parte dos empresários engasga", explica Melo Santos.

Para resolver isso, segundo ele, a agência criou um modelo de PDF que permite ao empresário, juntamente com um especialista, como o contador, informar dados do mercado que atua, os fornecedores, quais são as ameaças e benefícios, projeção de faturamento, tudo referentes ao plano de negócios. Contudo, o presidente da Desenvolve SP comenta que há casos em que a dificuldade ainda existe. "É o que acontece no Brasil, o empresário não planeja, não faz um business plan [plano de negócio]", disse.

"Neste momento, pedimos para ir à sede da agência e a partir daí oferecemos uma orientação, sugerimos que uma empresa de consultoria ou um contador sejam contratados, à escolha do executivo. Após ele conseguir enviar esse projeto, fazemos a analise e, aí sim, vamos visitar a empresa para conhecer a governança da solicitante e ajudamos também se faltar uma profissional para uma área, entre outras situações. O objetivo é, ao dar o financiamento, gerar emprego e renda e que ele nos devolva esse aporte, para reemprestarmos", afirma Melo Santos.

Resultados

Por outro lado, o especialista entende que a necessidade de dar uma garantia é também uma das maiores dificuldades que a empresa de menor porte possui para ter acesso ao crédito. "Como o Desenvolve SP é um banco, deve seguir as normas do Banco Central que não me permite financiar sem ter garantias. Assim, se a empresa paulista não tiver apartamento, algum imóvel terá dificuldade para ter empréstimo."

Contudo, o presidente da instituição afirma que há formas para que o crédito seja liberado, por meio de fundos de aval. "Se o projeto for de R$ 360 mil, 10% do limite de faturamento máximo que pode ter uma pequena empresa, posso propor que contrate o fundo. É como um seguro com custo pequeno", justifica o presidente da instituição.

Existem cinco fundos deste tipo, sendo que um deles foi desenvolvido pela agência de São Paulo, o Fundo de Inovação Paulista. No total, os fundos contam com R$ 530 milhões de recursos para investir.

Desde o surgimento da agência, foram emprestados R$ 1,6 bilhão para 1.247 empresas e prefeituras. Por porte do negócio, as médias - com faturamento até R$ 90 milhões - foram as que mais receberam aportes, seguidos pelas pequenas, com 19%, e pelas grandes companhias, com 10%.

No caso dos desembolsos feitos por setor, a indústria é destaque com 51%. Em segundo lugar está o segmento de Serviços, com 31% dos empréstimos liberados nesses últimos cinco anos e meio. Depois está o setor público (municípios), com 12%, e comércio, com 6%.

No ano até outubro, foram desembolsados R$ 400 milhões, o que já ultrapassou em 10% todo o montante que foi financiado para empresas paulistas no ano passado. A expectativa é de alcançar R$ 500 milhões no acumulado de 2014.

Melo Santos explica que esse avanço nos desembolsos em 2014 comparado ao que foi feito em 2013 (R$ 362 milhões) é em razão da necessidade de aportes específicos.

"O governador [Geraldo] Alckmin pediu a criação de programa para financiar hotéis de modo a que esses investissem na modernização, inovação e ampliação, por conta da demanda da Copa do Mundo. Isso elevou os desembolsos. Outro fator foi um programa, inserido no contexto de política pública, voltado para o saneamento e restruturação das Santas de Casa de são Paulo, já que essas instituições passam por problemas de toda natureza, não só de gestão", apontou.

Segundo ele, com essa linha, a Santa Casa que devia, por exemplo, para cinco bancos, e pagava juros, 1,5% ao mês, passou a dever 0,41% ao mês para nós. Ou seja, a agência utilizou recursos do BNDES, pagou os bancos que a instituição tinha feito o empréstimo, e a dívida ficou com a Desenvolver SP, com garantia do Sistema Único de Saúde (SUS). "A economia gerada com isso chegou a quase 66% de juros, o que poderia ser usado para investir em novos leitos, equipamentos, entre outros."

Melo Santos afirma que, de modo geral, os empréstimos podem vir de recursos próprios da agência de fomento - provenientes de um aporte feito no surgimento da instituição, de R$ 1 bilhão, devolvido pelas prestação pagas -, mais repasses do BNDES. Desta forma, os desembolsos não são afetados em caso de contingenciamento do governo de São Paulo.

Evolução

O especialista entende que essa falta de um planejamento é um dos maiores fatores da taxa de mortalidade ainda ser alta no Brasil, conforme diversos indicadores. "A maioria daqueles que querem abrir uma empresa está no sistema convencional. Eu tenho um dinheiro proveniente de herança ou de indenização e quero abrir um negócio, só porque acho que o ponto é bom", disse.

Contudo, na visão dele, com a abertura e crescimento econômicos nos últimos anos, a população está mais consciente de que precisa se especializar ou estudar antes de decidir ser empreendedor. "O uso da tecnologia foi importante para retomar essa vontade de abrir uma empresa, não só no Brasil, mas também no mundo. Mas como o brasileiro é muito criativo e empreendedor, estamos vendo mais essa intenção. Porém, o País precisa investir na formação dos jovens, primeiro, nas escolas [educação financeira], e o governo precisa dar as ferramentas para qualificar esse empreendedor", avalia.

Além de cursos ou oferecer uma orientação já nas escolas, para Melo Santos, assim como apontam outros especialistas e empresários, o governo precisa também criar um ambiente fiscal e regulatório mais propício para o desenvolvimento dessas empresas. Uma dessas sugestões, que já está sendo analisada pela equipe de Dilma Rousseff, seria ampliar o limite de faturamento para poder optar no Simples, o qual hoje é de R$ 3,6 milhões no ano. "Se o empresário ultrapassar esse limite ele sai do Simples e a carga aumenta. Ou ele sonega ou abre outra empresa, e com isso, perde-se escala. Com essa economia escala, vende-se melhor, paga-se melhor", entende o presidente da instituição.

Texto confeccionado por: Fernanda Bompan


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