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Freelancers em alta: o que está levando a essa nova onda de profissionais por trabalho sob demanda?
Com o mercado de trabalho em transformação, passando por três regimes de trabalho e cinco gerações, empresas e profissionais já apresentam as tendências do futuro do trabalho. Se por um lado companhias buscam pessoas cada vez mais qualificadas, do outro funcionários buscam por empresas com culturas mais flexíveis – e há muitos estudos que mostram o quanto a flexibilidade será o benefício chave nos próximos anos no mercado de trabalho.
A satisfação do funcionário, por exemplo, agora está voltada para a flexibilidade. Segundo a pesquisa “Tendências e Perspectivas do Trabalho - Report WeWork LatAm 2023”, realizada pela WeWork com 10 mil profissionais de cinco países da América Latina (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México), 81% das pessoas gostariam de ter ou já possuem um benefício destinado à liberdade de gestão do tempo - que inclusive está sendo mais lembrada que o plano de saúde para o trabalhador do mundo contemporâneo.
“Na hora de avaliar uma proposta de emprego, o salário continua sendo o fator de maior relevância na tomada de decisão (94%), mas muito próximo da flexibilidade de horários (88%) e do regime de trabalho (87%),” afirma Bruna Neves, diretora-geral da WeWork no Brasil.
Nos EUA, o trabalho freelancer ganha ainda mais atenção dos profissionais. Ao menos 36% da força de trabalho americana tem escolhido trabalhos sob contratos, freelances e temporários, segundo estudo realizado pela McKinsey em 2022. Esse dado foi divulgado em uma matéria da Harvard Business Review que mostrou que profissionais altamente qualificados querem o trabalho de muitas pessoas contratadas, mas não o seu emprego – ou seja, as regras que muitas empresas impõem, como horário de entrada e saída, regime presencial e exclusividade de serviço não parece ter o mesmo peso que antes para muitos profissionais americanos.
Para Milene Brentan, coach executiva que tem mais de 20 anos de experiência em RH, uma empresa vê valores diferentes entre o funcionário e um freelancer.
“Funcionários são valorizados pelo comprometimento e alinhamento cultural, além das entregas específicas, já o profissional sob demanda ou temporários são valorizados pelas suas habilidades e performam de acordo com as entregas determinadas em contratos”.
O perfil de quem busca ser freela
Um estudo realizado pela Upwork em 2023 mostra que muitos freelancer americanos que ganharam mais de 150 mil dólares por ano ofereciam serviços como programação de computadores, marketing, TI e consultoria de negócios, sendo a maioria da Geração Z (52%) e da Geração Millennials (43%).
Além de analistas, o trabalho sob demanda está chegando em executivos C-Level também. Nos últimos anos, Frederico Torres, sócio-sênior do Grupo Hub, consultoria de RH, percebeu um crescimento de empresas que eram startups, mas que cresceram, sem porte para ter um C-Level.
"O que fazer se uma empresa precisa de um C-Level, mas não pode pagar? Foi aí que pensamos no cargo de C-Level as a Service (CaaS), que é algo que já existe nos EUA em muitas empresas, mas no Brasil poucas consultorias trabalham com isso”, afirma Torres.
A oportunidade de trabalhar como C-Level sob demanda surgiu para Marcio Pio, engenheiro e especialista em gestão empresarial. Após experiência como executivo empresarial por 12 anos, decidiu aos 49 anos ser CFO de empresas de pequeno e médio porte, sejam elas tradicionais ou startups.
“Neste modelo de trabalho sob demanda sinto que estou envolvido em atividades importantes, fazendo a diferença em vários lugares e com menor dependência econômica”, afirma Pio começou o primeiro trabalho sob demanda em 2019.
O freelancer na versão nômade digital
A instabilidade pode ser uma motivação ou um grande desafio para quem busca a vida de freelancer. A jornalista Stephanie Haidar já vivenciou os valores de CLT como funcionária de uma rádio por oito anos. Após a pandemia e a perda de uma tia, Haidar passou a reavaliar sua carreira, especialmente após experimentar o trabalho remoto. Foi então que no começo de 2022 ela decidiu deixar o jornalismo tradicional para trabalhar em uma agência de assessoria 100% home office.
Após seis meses neste trabalho, Haidar decidiu largar a oportunidade CLT e entrar de cabeça no mundo dos nômades digitais em 2023. Com um computador, uma mochila e muita programação, ela começou a viajar para diferentes países e a trabalhar com comunicação corporativa para diferentes empresas e CEOs.
“Já conheci 23 países e tenho 10 viagens marcadas para esse ano. Até agora já rodei mais de 159 mil quilômetros quadrado”.
Mas não é só de paisagens bonitas que se vive um nômade digital. Entre os maiores desafios dessa carreira, Haidar destaca a instabilidade financeira, aceitar viver um estilo de vida mais simples e saber improvisar com a tecnologia no meio do caminho.
“Sei que sou beneficiada por ter a casa dos meus pais para voltar, mas todos os meus custos hoje são pagos com meu trabalho home office”, diz. “Para quem deseja ser freelancer, é preciso ser muito organizado com as finanças, afinal, cada país tem um custo de vida e não são em todos os lugares que a internet pega. O prazo dos trabalhos e o vencimento das contas sempre chegam, é preciso muita programação.”
As vantagens e desafios
Enquanto o funcionário de uma empresa possui benefícios trabalhistas que de alguma forma traz uma estabilidade mensal, por outro lado o freelancer pode ter múltiplos clientes, afirma a coach Brentan, que reforça os prós e contras para uma empresa contratar talentos sob demanda:
“Enquanto a empresa pode iniciar projetos rápidos sem precisar contratar um funcionário, ela também tem o desafio de garantir que os freelancers contribuam para as metas de longo prazo, além de lidar com a falta de continuidade”, diz Bretan.
No caso do profissional contratado sob demanda, o financeiro pode entrar como perda ou ganho.
“O freelancer tem como vantagem a autonomia e flexibilidade para escolher projetos e clientes, além de trabalhar em diferentes setores, mas também enfrenta incertezas financeiras devido à renda variável e à falta de benefícios, e pode sofrer com o isolamento por trabalhar sozinho. É preciso muita organização e parcerias estratégicas para evitar sobrecarga”, afirma a coach.
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