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O que fazer com seus investimentos após a alta da Selic?


20/09/2024
Brasil
Valor Invest

Onde investir com a alta que levou a Selic a 10,75% ao ano? Após o Comitê de Política Monetária (Copom) inverter a direção dos juros - uma decisão amplamente antecipada por economistas e gestores - a renda fixa brasileira fica ainda mais atraente neste início de um novo ciclo contracionista.

Com a abertura de spreads (aumento da diferença entre as taxas de remuneração) entre os títulos do Brasil e dos Estados Unidos (EUA), o potencial de atração de capital estrangeiro para a renda fixa local deve impulsionar o mercado doméstico.

Mas não de maneira uniforme e casada.

O risco de contração da economia sob os novos apertos na Selic tende a distanciar os cenários dos investidores para as rendas fixas privada e pública nos próximos meses.

Para os especialistas ouvidos pelo Valor Investe, títulos públicos seguem imbatíveis. Com baixo risco, liquidez elevada e taxas mais altas nos curto e médio prazos, enquanto as incertezas fiscais não forem sanadas, os papéis do Tesouro Direto não têm concorrentes à altura no mercado de capitais.

Já o mercado de crédito privado deve seguir aquecido da perspectiva de demanda, mas exige atenções redobradas aos riscos. A alta Selic - que, pelo cenário de investidores, pode subir até 12% ao ano no começo de 2025 - pode deteriorar os resultados das empresas e comprometer sua capacidade de pagamento de dívidas. Em última instância, isso afetará as ações na bolsa, em especial as de empresas com endividamento elevado.

"As companhias que captam no mercado de capitais precisam ter rentabilidade suficiente para pagar esses juros da dívida, custear sua própria operação e ainda gerar lucro para os acionistas. Então esse gargalo deve estreitar agora. Isso traz mais alertas para os riscos de calote", pondera Willian Andrade, chefe de investimentos e sócio-fundador da Kaya Asset.

Mas isso não significa que a renda variável está completamente fora da jogada.

O analista da Empiricus Research Matheus Spiess acredita que, mesmo com o arrocho no mercado de crédito, os investidores podem recorrer à bolsa, que não faz parte do cabedal tradicional dos ativos que se beneficiam com apertos nos juros.

"Este movimento de hoje não é o de um típico ciclo de política monetária. Os juros estão subindo no Brasil mais por questões de recuperação de credibilidade do BC e com o objetivo de ancorar as expectativas dos investidores do que para controlar a inflação corrente", pondera Spiess.

Mas Alexandre Mathias, estrategista-chefe da corretora Monte Bravo, resume: ainda que a renda variável receba fluxo de estrangeiros, a renda fixa doméstica segue com a melhor relação entre risco e retorno. "A incerteza fiscal continua mantendo o risco Brasil elevado, o que limita uma arrancada mais forte dos ativos locais."

No que investir na renda fixa agora?

Entre os títulos públicos, especialistas evitam os prefixados no curto prazo. Esses ativos tendem a apresentar alta volatilidade enquanto a duração e a intensidade do ciclo de apertos monetários no Brasil permanecerem incertos.

"Por um lado, há aspectos domésticos, como o nível de atividade mais forte, dúvidas sobre o cumprimento das metas fiscais, e as expectativas inflacionárias desancoradas pressionam o BC por um ciclo de aperto mais forte. Por outro lado, o cenário internacional parece mais benigno, com o Fed [Federal Reserve, banco central americano] iniciando a redução das taxas de juros nos EUA", pondera Marcel Andrade, chefe da área de soluções de investimentos da SulAmérica Investimentos.

Mas Rodrigo Sgavioli, chefe de alocação da XP Investimentos, reitera que os prefixados não devem ser completamente ignorados neste cenário, uma vez que seguem com prêmios elevados. A questão é que a fatia neles deve ser limitada para se reduzir o risco de o Copom subir juros mais do que o previsto pelo mercado.

No atual cenário contratado pelo mercado financeiro para a Selic, a taxa básica de juros deve subir 0,5 ponto percentual mais duas vezes, nas reuniões de novembro e dezembro, e então fechar este mini ciclo com uma alta de 0,25 ponto percentual em janeiro.

Com este horizonte, o chefe de alocação da XP orienta que os portfólios de investimentos tenham entre 90% a 50% das carteiras alocadas na renda fixa, de acordo com o perfil do investidor. Da seguinte forma:

  • Para os mais conservadores, o ideal é ter cerca de 90% dos investimentos em renda fixa, sendo 67% nos títulos que acompanham o Certificado de Depósito Interbancário (CDI), como Tesouro Selic ou CDBs. O restante (23%) da carteira de renda fixa deve se concentrar em títulos atrelados à inflação.
  • No caso dos moderados, a carteira deve configurar 67,5% dos ativos de renda fixa, sendo 35% em títulos que acompanham o CDI, 25% indexados à inflação, e 7,5% em prefixados.
  • Os mais arrojados podem alocar 50% em renda fixa, com maior concentração (cerca de 30%) em títulos indexados ao IPCA. Do restante, Sgavioli recomenda ter 15% de papéis que acompanhem o CDI, e 5% em prefixados.
A Monte Bravo calcula que, mesmo com o risco fiscal elevado, carteiras diversificadas na renda fixa tendem a proporcionar ganhos de 111,3% do CDI para os próximos 12 meses.

Para o executivo da SulAmérica, as NTN-Bs (papéis conhecidos como Tesouro IPCA+) são os melhores ativos dentro da classe de renda fixa atualmente, já que apresentam taxas acima de 6,3% em praticamente todos os vencimentos.

Mas os especialistas divergem sobre a alocação nos títulos que acompanham a inflação.

Para Lucas Almeida, sócio da AVG Capital, esses ativos são interessantes para estratégias de longo prazo por permitirem ganhos tanto pela remuneração atrelada ao IPCA quanto pela marcação a mercado num cenário de queda de juros.

Já Sgavioli explica que, apesar de serem indicados para o longo prazo, os papéis indexados ao IPCA podem não se adequar ao perfil de alguns investidores. Por isso, diante dos prêmios historicamente altos, a recomendação tem sido focar nos papéis de vencimentos mais curtos.

"Muita gente pode não conseguir carregar até o vencimento e, por serem papéis mais voláteis e poderem apresentar marcações negativas na carteira, podem trazer desconforto ao investidor. Por isso, sabendo que nos meses à frente pode haver 'susto' inflacionário, a gente tem sugerido uma exposição nos vencimentos mais curtos e intermediários na renda fixa atrelada ao IPCA", defende o chefe de alocação da XP.

Já no mercado de renda fixa privada, ele entende que não há tantas oportunidades, já que os spreads de créditos estão muito apertados.

Na prática, isso significa que a diferença entre a taxa de rentabilidade de um título de dívida privada com a de um papel comparável da dívida pública (iguais ou similares vencimentos e indexadores) não condiz com o risco a mais que esse ativo corporativo representa.

"Atualmente, existem empresas com nota de crédito AAA [que oferecem risco baixíssimo de calote, portanto, são consideradas as melhores pagadoras do mercado] com demanda tão forte pelos seus títulos de dívida que conseguem negociar preços, a ponto de emitirem títulos de dívida com remuneração DI+1%", exemplifica o executivo da Kaya.

De acordo com Sgavioli, os papéis de crédito privado, além de retornos menores, também estão vindo com vencimentos mais longos, o que não acomoda os objetivos de curto prazo.

Existem oportunidades na renda variável?

O investidor gringo deve preferir a renda fixa no curto prazo, segundo especialistas, o que não significa que não existe oportunidade para alocar na renda variável. Neste caso, além do eventual embalo vindo das quedas nos juros dos EUA, esses ativos que carregam mais risco podem, nos médio e longo prazos, surfar um eventual alívio das tensões em torno da política fiscal e a acomodação do mercado à nova gestão do BC

Neste segmento, a corretora Monte Bravo sugere a alocação em fundos multimercados neste momento, uma vez que esses veículos podem se expor a juros e tendem a superar as performances da renda fixa em cenários como o atual, em que os ciclos de política monetária começam a se descolar.

Já em ações, o raciocínio é que, em sua maioria, as empresas da bolsa estão baratas. Por isso, a tendência de médio prazo é a bolsa sair do marasmo, conforme os juros americanos mais baixos liberem apetite estrangeiro.

"Para uma empresa competir com a Selic elevada, ela precise entregar pelo menos 15% de retorno ao ano. Então a Selic elevada deve ter um primeiro impacto de puxar a bolsa para baixo, mas a recuperação será mais rápida, especialmente entre os grandes bancos e as exportadoras, que são empresas com receitas dolarizadas e mais ligadas aos movimentos nos mercados externos", avalia o sócio-fundador da gestora Kaya.

Spiess, da Empiricus, é mais enfático e defende que, com a diferença entre juros nos EUA e no Brasil, os ativos de risco domésticos tendem a ter um trimestre positivo.

"Primeiro porque afastamos a narrativa de recessão lá fora, o que evita a recessão aqui também. Depois porque, se a Selic está subindo agora, precisa cair amanhã. Ou seja, as taxas dos contratos futuros de juros com vencimento no longo prazo caem. Isso beneficia as ações de empresas cíclicas domésticas", resume.

Mas o executivo da SulAmérica acredita que, embora os valores de mercado das companhias estejam historicamente baixos, a relação entre risco e retorno na bolsa ainda não é atrativa para aumentar a posição em renda variável agora.

"Com o aumento da Selic, o custo financeiro das empresas vai aumentar, o que pode ter impacto nas empresas mais cíclicas e dependentes do fluxo de consumo e financiamento", pondera.


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